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Para Sonza e muitas mulheres, continuar rebolando é um ato de resistência

pop cyber POP CYBER
(POP CYBER)

O que Luísa Sonza está vivendo em 2020 não é novidade. O tal do “hate” sempre existiu. O curioso caso dos milhões de dislikes no novo single da artista, “Flores”, é um reflexo disso. Recém separada, a cantora engatou uma parceria com o cantor Vitão, que ficou no olho do furacão ao ser apontado como pivô do divórcio. Luísa foi a artista que mais entrevistei em um ano e aqui dou a minha versão da história toda.

O começo da “treta”

Situando quem por ventura não esteja por dentro… É o seguinte. Luísa se separou recentemente de Whinderson Nunes, famoso youtuber. Luísa foi acusada por alguns internautas de ter se aproveitado da fama e do dinheiro do, até então, marido. Vale ressaltar que Luísa já é milionária não é de hoje e que passou os últimos dois anos tentando incessantemente se desvincular da imagem do humorista.

Na primeira vez que entrevistei Luísa a recomendação da produção era que não se tocasse no assunto Whinderson. Eu entendi que era exatamente porque ela gostaria de falar sobre a carreira, o lançamento do seu álbum, “Pandora”, e da sua participação no quadro “Dança dos Famosos”, no “Domingão do Faustão”. Outros colegas jornalistas que a entrevistaram na mesma época não entenderam assim, e chegaram a publicar que a recusa em se falar sobre o casamento já denunciava uma crise. Na entrevista, ao contrário do que pediu gentilmente a produção, ela acabou deixando escapar que não existia problema algum em seu casamento, muito pelo contrário. Luísa me contou que o processo de composição de uma música fica muito mais fácil quando se está vivendo um momento complicado, coisa que ela desconhecia. “Às vezes eu falo: ‘amor, a gente precisa brigar um dia só’, tristeza é o melhor combustível”, contou aos risos. “A gente não briga, é tudo brincadeira”.

Assista a entrevista aqui.

Melhor momento

Na segunda entrevista com a Luísa falamos muito sobre o álbum “Pandora”. Ela estava super animada, lançando o clipe de “Não vou mais parar”. Conversamos sobre o amor que a comunidade LGBTQI+ tem por ela, sobre o carinho dos fãs, a recém lançada “Combatchy” na ocasião. Um dos pontos da entrevista foi a tal fama de “Boa menina”, que ela ironiza muito bem na música do mesmo nome. Perguntei se por acaso se sente incomodada com o rótulo de princesinha e ela disse que não, que o que a aproxima dos fãs é exatamente a quebra de paradigma. “A princesinha que rebola a bunda”, brincou. “Gosto de brincar com rótulos, porque mudo o tempo todo e gosto de fazer isso, porque os fãs entendem”. Até brincamos, dizendo que provavelmente eu a estava vendo mais do que o seu marido, e Luisa falou sobre a agenda atribulada, intensa, mas gratificante. “Estou no melhor momento da minha carreira, da minha vida”, disse.

Assista à entrevista aqui.

Depressão e medo

No dia anterior à mais uma entrevista com a Luísa, estava navegando na Internet quando dei de cara com um tweet dela que falava sobre depressão. A cantora publicou um desabafo, dizendo que  não aguentava mais viver se escondendo atrás de uma imagem de durona. Achei que a nossa entrevista poderia ser um momento de desabafo, e pautei nisso. Ao chegar nos bastidores do show onde nos encontramos, mais uma recomendação da sua produção cuidadosa: “por favor, não comenta sobre depressão, ela está triste”. Pensei mil vezes e optei por chamá-la no canto antes de começar a filmagem. Disse: “Luísa, sei que o momento é delicado, mas podemos falar sobre o que você escreveu ontem? Sua relação com os fãs é tão próxima, acho importante”. Ela concordou, e eu disse que a qualquer momento poderíamos recomeçar, caso ela se sentisse desconfortável. Luísa contou que a decisão de se expor foi para ser o mais transparente possível com o público que a levou até ali. “Um dos motivos da minha depressão é muito o julgamento das pessoas”, disse. “Muito pelas coisas que eu vejo pela Internet. Tive medo de receber mais coisa”. Em dezembro de 2019, Luísa mal esperava o que ainda estava por vir.

Assista a entrevista sobre depressão aqui.

A separação

No início de 2020, ela tirou umas férias e voltou com tudo para um Carnaval memorável. Nos encontramos novamente, dessa vez no trio de um bloco aqui no Rio de Janeiro, uma semana antes da folia. A agenda estava lotada! Era um evento por dia e Luísa resolveu homenagear grandes divas do Pop. Nesse dia estava vestida de Christina Aguiliera em “Lady Marmelade”. Whinderson a acompanhou nesse Carnaval de perto.

Em março, veio a pandemia do novo coronavírus, mudando os planos de todo mundo, inclusive dos artistas. Luisa estava com “Braba” prontinha para ser lançada e me deu mais uma entrevista, dessa vez por telefone. Ela contou sobre as mudanças na divulgação do single: festão e encontro com a imprensa adiados. A cantora chegou a pensar em adiar também o lançamento por conta do momento mundial. Ainda bem que não desistiu! “Braba” ficou em primeiro lugar no Spotify, marcando a chegada dela ao topo em música solo, anteriormente ocupou a posição com “Combatchy”, parceria com Anitta, MC Rebecca e Lexa. Ainda durante a quarentena, Luísa anunciou o fim do seu casamento com Whinderson nas redes sociais. Foi aí que tudo começou.

Ouça a entrevista sobre “Braba” aqui.

Luísa foi alvo de diversas críticas após o fim do casamento, acusada, inclusive, de se beneficiar da fama do marido até conseguir o topo das paradas de sucesso. Embora os dois tivessem deixado claro o carinho um pelo outro após o término, não foi o suficiente para os fofoqueiros de plantão. A cantora fez uma live na semana seguinte em seu canal e chegou a se emocionar ao cantar a música que fez para o ex.

Vitão, “Flores” e dislikes

Pouco tempo depois veio a parceria com o Vitão, motivo pelo qual escrevo esse texto. Luísa e Vitão foram vistos juntos, foram fotografados, e acabaram estampando a capa de vários sites de fofoca. Será que estava rolando? Se sim, os dois estariam solteiros. Ambos alimentaram o imaginário da web ao postarem fotos juntos sem muitas explicações. O que, claro, fazia parte de toda a estratégia de lançamento.  Luísa começou a ser atacada na web, acusada de ter traído o ex-marido com o cantor. Foi anunciado, para o dia dos namorados, o lançamento de “Flores”, a parceria entre os artistas. Não mudou nada, os ataques continuaram. O clipe, super ousado, foi lançado e alcançou uma marca surreal de dislikes no vídeo, o maior de todos os vídeos brasileiros, entrando no Top 10 mundial, liderado por “Baby”, do Justin Bieber. Milhões de pessoas colocaram o dedinho para baixo no clipe. Mal sabem eles que essa ação representa engajamento e engajamento gera visualização. O clipe já foi visto quase 40 milhões de vezes e Luisa, ao invés de aparecer desanimada, se pronunciou contra o machismo envolvido na situação. A equipe da cantora tentou poupá-la, oferecendo retirar a opção de dislikes do clipe. Mas ela recusou. “Eu não vou privar porque quero que as pessoas vejam como as mulheres são tratadas até quando só estão fazendo seu trabalho nesse país”, disse em uma rede social.

Machismo disfarçado de “hate”

A diferença no tratamento dado aos homens e às mulheres não é só uma impressão. Em entrevista ao UOL nessa semana, Vitão comentou sobre o lançamento da música “Complicado” com a Anitta no ano passado. O vídeo também entrega cenas quentes e, de verdade, um envolvimento nos bastidores. Ano passado o entrevistei no Rock in Rio para a Mix e ele assumiu que os beijos na Anitta foram todos de verdade e que, sim, os dois ficaram juntos. O que acontece é que, na ocasião, Vitão havia acabado de terminar um relacionamento. Um término tão recente, mas tão recente, que muitos fãs nem sabiam. Se ele recebeu o mesmo tratamento que Luisa? Não. Pelo contrário. Na Internet, para muitos, ele “tirava onda”. “Eu tinha acabado de sair de um relacionamento e fiz o clipe sensual com a Anitta”, disse ao UOL. “Todo mundo me aplaudiu. Sou homem e ninguém ligou. Eu vivi na pele esse outro extremo da questão”.

É isso que acontece. Quantas vezes não vimos surgir um novo talento, um sucesso daqueles e demos de cara com comentários maldosos do tipo “quanto tempo será que dura esse casamento?”, “será que esse romance resiste à fama?”, “olha lá, esse galã tem uma esposa normal?”. Triste. Errado. Infelizmente é como as pessoas se comportam. Mas no caso da Luisa e de tantas outras mulheres, ficar maior ou tão grande quanto o homem chama tanta atenção que praticamente faz com que o sucesso pareça errado. Continuar “sensualizando”, se reerguendo após o fim de uma relação, se recusando a se calar diante das críticas e continuar fazendo o trabalho é necessário. Quanto mais dislike, mais buzz. Para Luísa Sonza e tantas outras mulheres, seguir rebolando em 2020 é um ato de resistência.

 

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