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“Foca no meu bumbum”: Ludmilla, união feminina e empoderamento

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(POP CYBER)

Ludmilla in the house, c******!!!”. E foi assim que ela entrou no palco do Prêmio Multishow, que aconteceu nesta quarta, 11. Tudo deu certo na noite para Ludmilla. A cantora acertou em cheio ao marcar o lançamento da sua música, “Rainha da favela”, para a virada de quarta para quinta, quando também faria o seu show na premiação, que marcou a primeira performance do seu novo single. De quebra, ainda levou pra casa o prêmio de música do ano, com “Verdinha”, momentos antes de subir ao palco. Em seu discurso, Lud reforçou a importância de estar de volta como vencedora na mesma premiação em que foi vaiada no ano passado, ao receber o prêmio de “Cantora do ano”. Naquele momento, ela protagonizava uma das maiores brigas da música em 2019: a confusão com Anitta por conta dos créditos na composição da canção “Onda diferente”.

A briga com Anitta, aliás, deu origem à “Cobra venenosa”, single da Ludmilla. Pelo menos é o que dizem, mesmo que a própria negue. “Gosto de tirar proveito das situações de forma positiva”, disse Lud em um trecho do mini doc postado em suas redes sociais para o lançamento de “Rainha da favela”. E foi para falar de superação que a música nasceu. A cantora quis destacar o empoderamento das mulheres, do poder de cada uma sobre o próprio corpo e até sobre o direito de agir em relação à ele como bem entenderem. “My pussy mata rindo”, inclusive, é uma das frases da música. Não vou nem traduzir, hein?! Que eu sei que vocês entenderam.

Superação e performance aclamada

Estar bem resolvida não significa estar indiferente aos ataques que sofreu ao longo de sua carreira e sofre até hoje. Em sua performance no Prêmio Multishow 2020, antes de cantar sua nova música, Ludmilla colocou áudios fortes de racismo e intolerância que foram direcionados a ela. “O cabelo dela tá parecendo um bombril”, dizia um deles. Um outro a associa à uma criminosa: “A cantora Ludmilla precisa entender se ela quer ser cantora ou traficante” e em outros pudemos ouvir trechos de reportagens de televisão denunciando o racismo que a cantora sofreu, inclusive o caso em que foi chamada de macaca por um internauta.  Logo em seguida mostrou que sempre que cai dá a volta por cima, e fez sua elogiada apresentação.

Inspiração e, finalmente, união feminina

Bem… Só de ganhar a categoria “Música do ano” com “Verdinha”, Lud mostra a que veio. A canção fala quase que abertamente de maconha, tema polêmico por si só, e teve como inspiração a hipocrisia da sociedade ao redor do uso da erva. Para “Rainha da favela”, Ludmilla encontrou inspiração na comunidade. “É lá que moram as verdadeiras rainhas pra mim”, disse. “De lá saem as mulheres mais raçudas que conheci e por isso essa homenagem à elas”. Para essa homenagem, a cantora resolveu chamar grandes rainhas do funk, mulheres que vieram antes dela e que foram referências para a sua carreira: MC Carol de Niterói, Valesca Popozuda, MC Kátia Fiel e Tati Quebra Barraco. As quatro participam do clipe da música.

Em comum, as funkeiras tem os famosos “proibidões”, com letras de total empoderamento feminino que eram feitas muito antes da palavra estar na moda. Mas, além disso, se tinha uma coisa que as letras dos anos 2000 tinham era briga de mulher. Ô se tinha: era “fiel” contra amante, muita invejosa e beijinho no ombro distribuído como provocação. Elas hoje entendem que a união feminina é mais que importante. Foi a tal guerra contra as amantes que fez a MC Kátia ganhar o apelido de Fiel. “Entrei no funk para defender as mulheres com compromisso”, explicou a própria no mini doc feito pela equipe de Ludmilla para o lançamento do novo projeto. Valesca, que há alguns anos cantava “do camarote quase não dá pra te ver”, hoje afirma que fala o que quer, mas com ressalvas. “Seja uma rainha sem pisar e humilhar as pessoas”. Se antes ter um marido “que banca” era troféu, hoje em dia já não é mais. Para MC Carol, independência é não depender de homem. “Rainhas são batalhadoras que sabem se virar”, diz.  A disputa entre mulheres está longe de acabar, mas aos poucos, parece que logo, logo vira coisa do passado. “Eu sempre quis a união das mulheres”, diz Tati. “Ludmilla proporcionou isso com essa música”.

O clipe, banho de guaraná e churrascão na laje

Para o clipe de “Rainha da favela”, Ludmilla foi para a comunidade da Rocinha. É na comunidade que ela acredita que vivem as verdadeiras rainhas batalhadoras e guerreiras. Como co-diretora, ela teve a ideia de colocar no clipe uma mesa que faz referência à Santa Ceia, onde as cinco funkeiras passsam, uma para a outra, coroas imaginárias. A referência ao momento religioso não foi para afrontar. Em entrevista ao jornalista Leo Dias, Lud explicou que a intenção era dar importância e mostrar a cúpula do funk, representando o famoso churrascão na laje. “Não há intuito de criticar ou cutucar, eu queria que todas fossem vistas e nada melhor do que uma reunião com todas compartilhando whisky, charuto e champagne”, disse. A bebida cara se misturou à várias referências do que faz sucesso no cardápio do subúrbio do Rio de Janeiro: frango assado, torta salgada, espetinho à vontade e até um tipo de canapé conhecido como “sacanagem”, uma delícia feita com presunto, azeitona, cereja e queijo em um palito de dente. Só achei que faltou um clássico da dona Silvana, mãe da artista. Quando Lud apareceu, ainda como MC Beyoncé, a conheci em um trabalho de rádio e ela falava pra todo mundo que estava comendo no camarim: “vocês estão gostando disso aí, é porque não comeram a macarronese da minha mãe”. É com orgulho sempre que a cantora fala das mulheres da família. Em seu mini doc ela diz que considera primeiro a avó e depois a mãe como suas verdadeiras rainhas e que, inclusive, salvou o número das duas assim no telefone. No clipe, Lud protagoniza cenas sensuais ostentando dinheiro com outra grande rainha da sua vida, sua esposa Brunna. Em outras cenas, Lud aparece subindo em um jatinho. Ela é raiz, mas também é poderosa!

Em alguns trechos do clipe, Ludmilla aparece em cima de um caminhão que acabou de tombar. Ela compra a carga do motorista com bolos de dinheiro pra fazer a alegria da comunidade. A cena faz referência ao que acontece quando algum tipo de carga acaba tombando próximo à algumas comunidades. É normal que a população se aglomere para garantir o seu engradado e levar para casa algum produto que provavelmente não teria na mesa. Lud transforma o que poderia ser triste em uma cena divertida e cheia de festa, tomando um baita banho de guaraná em garrafa pet, junto com a galera e a criançada que está em volta.

Continuação?

Será quem teremos um “vem aí”? Ou uma continuação? O final do clipe tem Ludmilla no jatinho falando em espanhol ao telefone dizendo que acaba de subir no avião e que está chegando. Até aí tudo bem. Mas a direção do clipe, de Felipe Sassi, alimenta a imaginação de quem conhece seu trabalho. Felipe é famoso por criar universos que conversam entre si nos seus trabalhos. Foi assim com os clipes de Lia Clark, Wanessa, Gloria Groove e IZA. As histórias de cada um dos clipes se cruzou em alguns momentos. Eu aposto em uma nova parceria de peso em espanhol ou na artista passando a bola para o clipe de outro artista. O que vocês acham?

Mas a pergunta que não quer calar mesmo é: “Rainha da favela” é um proibidão? Depende de como você quiser escutar. Um dos trechos da música diz “foca no meu bumbum”, que, malandramente, Ludmilla deixa em aberto. “Se você ouvir rápido, ouve soca”, explicou a cantora. “É o trocadilho da Lud”, conclui. Cada rainha que escolha a sua versão, não é mesmo?

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